São 25 anos e muitas histórias!

#Arte: Alice no país do horror

Posted: 28 de mai. de 2010 | Postado por Seu Jair | Marcadores: , ,

Passeando por sites sobre arte, nos deparamos nessa entrevista com a artista plástica Alice Miceli, para a Revista TPM.

Após rodar quase 150 mil quilômetros para estudar ou fazer arte, os destinos de Alice incluíram França, Camboja, Indonésia, Finlândia e Belarus – antiga Bielo-Rússia – onde fica parte da zona de exclusão, Chernobyl, a carioca de 30 anos mergulhou na região contaminada pelo maior acidente nuclear de todos os tempos.

alice-chernobyl1 Alice Miceli, na zona de exclusão de Chernobyl, em novembro de 2009.

Embora não seja o melhor lugar do mundo para estar, ela foi oito vezes à região, levada pela obsessão de registrar o invisível: os rastros da radioatividade. "O lugar é lindo. É como se fosse uma reserva natural. Só que está tudo envenenado e isso você não sente, não cheira e não vê. A não ser pelas casas abandonadas com restos de louça, roupa, brinquedos, livros e jornais. "E pelos inúmeros casos de câncer que ainda são registrados", lembra a artista, que pendurou na parede da sala fotos em preto e branco que fez na região.

Extremamente conceitual, sua obra nem sempre é popular. Mas agrada a alemães como Stephen Kovats, diretor artístico do Transmediale. "O trabalho de Alice tem uma poética forte e, junto com metodologias e processos científicos, revela problemáticas políticas e sociais que são universais", explica. Chernobyl começou a surgir durante um grupo de estudos, coordenado pelo professor Charles Watson, na Escola de Artes Visuais do Rio de Janeiro. Quando propôs o silêncio como tema, Alice pensou imediatamente na região.

Mas, até lá, seria um longo caminho. Para registrar a radioatividade, teve que desenvolver, com a ajuda de cientistas, uma série de experimentos. Começou com uma rudimentar câmera pin hole. Mas acabou adotando as "autorradiografias" - filmes de 30 x 40 centímetros capazes de registrar a contaminação do ambiente depois de um longo tempo de exposição. "O resultado é uma espécie de Santo Sudário", compara Alice. Nada a ver com fotografia, portanto. "Não vai dar para identificar se as imagens vêm de um prédio ou de uma árvore. Mas elas terão a forma da respectiva contaminação", explica a artista, que deu início ao projeto em 2006, ao ganhar o prêmio Sérgio Motta de Arte e Tecnologia.

alice-chernobyl2 
Retratos de Chernobyl: para “fotografar” a radioatividade, Alice adotou as “autorradiografias”,
filmes de 30 x 40 cm que registram a contaminação do ambiente após longo tempo de exposição.

Alice teve ajuda de pesquisadores do Instituto de Radioproteção e Dosimetria do Rio, assim como apoio do Instituto de Radiação Otto Hug, de Munique, que desde 1990 trabalha na região com diagnóstico e tratamento de pacientes com câncer - e abriu as portas de Chernobyl para ela.

"Ajudar Alice é uma forma de mostrar o que realmente significa a energia nuclear, pois o elemento que produz as imagens no filme também muda o núcleo das nossas células, produzindo câncer", diz a alemã Christine Frenzel, cientista do Otto Hug, lembrando que "a catástrofe pode voltar a acontecer em qualquer uma das mais de 400 usinas mundo afora". Christine gostou de trabalhar com a artista: "Ela é uma jovem ativa, flexível, corajosa e determinada".

0 comentários:

Postar um comentário